Os Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) julgaram na última quarta-feira (18.06) que era ilegal a exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista.
A decisão fundamentada na Constituição de 1988, no artigo 5, que trata da liberdade de expressão e que se confrontava com um decreto-lei de 1969, época em que o País era governado pela ditadura militar. A decisão do STF tenta corrigir um erro aparente, mas cria outro: Quem será o novo jornalista que vai atuar dentro das redações? Como vão ficar a qualidade dos cursos? Qual vai ser a preparação deste novo profissional? Como fica a pesquisa científica na área de Comunicação Social?
Todos esses questionamentos me fizeram lembrar o meu primeiro dia de aula na faculdade de Comunicação. Era aula de Língua Portuguesa I, a professora Madalena com o objetivo de integrar a turma fez a clássica pergunta: o que procurávamos no curso? Eu do auto de minha arrogância respondi que somente o diploma, pois iria ser o editor-chefe da Folha de São Paulo e o canudo era um pré-requisito.
Quatro anos depois me formava como Comunicador Social, habilitado em Jornalismo. Nunca cheguei sequer a fazer um freela para a Folha, mas adquiri conhecimento que nunca teria em outra graduação. Durante os quatro anos de curso foi me apresentado um mundo de teorias filosóficas, sociológicas e comunicacionais, que me mostraram como a notícia é construída, como e porque a mensagem é disseminada, como ela influência toda uma sociedade.
Lógico, que tudo isso embasado com aulas práticas, pesquisas e estágio. Hoje, depois de enfrentar uma faculdade e com a experiência de quem atuou em Redação e Assessoria de Imprensa olho para trás e em nenhum momento vejo que foi um tempo perdido, muito pelo contrário, aqueles quatro anos foram a base para ser o profissional que me tornei.
Entendo que muitos ainda possam acreditar que um jornalista possa ser moldado com o tempo, dentro de uma redação e sem nenhum embasamento teórico. Mas também vejo o outro lado, a pesquisa científica, o saber adquirido, conhecimento técnico que somente uma faculdade vai poder oferecer e o profissional ter condições de transmutar na prática do dia-a-dia. Isso anos de experiência nunca irá poder oferecer.
Hoje, longe das redações, atuando na área de internet, mas ainda um jornalista. Sinto um vazio, vejo muitos dos meus colegas comemorando que dentro de alguns anos seremos poucos e ganharemos mais. Eu vislumbro que dentro de alguns anos teremos redações repletas de pessoas que nem sabem escrever um lide. Falar em newsmaking ou gatekeeper será palavrão, os salários serão irrisórios e a qualidade já não vai ser preocupação.
Com a nova legislação não é possível afirmar nada. Como será feita a mudança, como as empresas jornalísticas vão se comportar, como o mercado vai absorver esses profissionais sem diplomas. Enfim, dentro de tantas suposições a única certeza que ainda me resta é o orgulho de ter passado por uma faculdade e hoje poder conciliar toda a bagagem teórico com o conhecimento prático.
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